quarta-feira, 21 de abril de 2010

Rio de Janeiro, eterna capital do Brasil



A cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro já foi descrita por milhares de pessoas, cada qual com o seu ponto de vista. A maioria parece concordar que o título de “Cidade Maravilhosa” lhe cai bem, mesmo que ultimamente ela esteja sofrendo de problemas variados, ligados as mais diversas áreas, como por exemplo a política, a segurança e a saúde. Saudosistas poderiam passar horas perguntando se a situação da ex-capital sempre se apresentou desta maneira.

Agora vamos pensar no passado da cidade e imaginar como ela se comportou quando precisou ter sua estrutura transformada, deixando de lado os traços coloniais que ainda possuía. Este texto tem como objetivo estudar alguns aspectos importantes da história da cidade do Rio de Janeiro, que passou por profundas mudanças físicas e sociais a partir do final do século XIX e que ainda ecoam até nossos dias.

Tais modificações devem ser continuamente analisadas, tendo em vista que a moderna historiografia sempre se faz valer de novos olhares e novas pesquisas que surgem a partir revisões que vão sendo feitas sobre os mais diversos fatos. A partir de 1889, com a proclamação da República, o Rio de Janeiro torna-se a Capital Federal do então Estados Unidos do Brasil (o termo República Federativa viria muito mais tarde). Os primeiros tempos da República marcam a transição do país, que procurar cada vez mais de desvencilhar dos tempos da monarquia. O conceito chave destes primeiros tempos republicanos é a civilização, uma vez que o Rio de Janeiro ainda era uma cidade colonial, do ponto de vista estrutural. Tinha também um traço excessivamente popular (negros forros, refugiados de Canudos, imigrantes, além dos cortiços, animais perambulando pelas ruas), fato que dava a cidade uma má fama diante de outras capitais americanas e europeias. As primeiras tentativas de higienização aconteceram com as derrubadas dos cortiços, sendo o mais famosa deles o “Cabeça de Porco”.

O Rio de Janeiro passou a civilizar-se efetivamente a partir da presidência de Rodrigues Alves, que priorizou uma grande reforma na capital federal. O ponto central da reforma, para o governo federal, era a modernização do porto do Rio. Este fato favorecia os aos interesses do governo, visto que o Rio de Janeiro era a porta de exportação da produção cafeeira que vinha do interior de São Paulo, além de outros bens agrícolas que sustentavam a economia do país. A cidade também apresentava-se de forma pouco adequada devido as doenças endêmicas, ruas apertadas (o que dificultava a circulação de mercadorias) e sujeira em excesso. Rodrigues Alves desejava fazer, além de uma grande reforma, inspirada no padrão urbano europeu, a mudança no cotidiano de uma cidade que ainda estava longe de ser comparada à uma capital civilizada, pois a fama de cidade pestilenta prejudicava os negócios.

A pesquisa histórica, de acordo com o que se aprende com o movimento da Escola dos Annales, consiste num esforço de superação do evento. Portanto a reflexão sobre alguns fatos que levaram a transformação do Rio de Janeiro na capital da República que começava a dar seus primeiros passos nos permite conhecer algo mais sobre um período marcante na história da cidade e do país.

O Rio de Janeiro é uma cidade que parece ter sido destinada a ser diferente de todas as outras cidades brasileiras, quer seja pela sua localização e por suas belezas naturais, quer seja pelas particularidades que acabaram tornando-a uma das mais importantes dentro do cenário político, social e cultural do país. Todavia a cidade precisou pagar um preço alto para cumprir o papel que lhe era destinado, daí que quando se verificou a necessidade de modernizá-la. A Revolução Industrial estava acontecendo e trouxe mudanças significativas para toda a humanidade, dentre elas progresso, bem estar e modernidade. A cidade antiga aos poucos vai sendo deixada de lado para dar lugar a construção da cidade moderna. Os destroços vão servir para a construção das casas daqueles que foram desalojados do centro, o que sugere que houve uma lenta e contraditória construção de uma nova ordem. Porém não podemos ter idéia do que aconteceu, ou talvez o que tenha sido necessário acontecer, para a cidade chegar aonde se encontra hoje em dia.

A modernização trouxe uma série de inovações positivas, que muito alteraram o panorama existente na época, mesmo a custa de suprimir o passado e o atraso em relação a outras capitais européias. Diferentemente do velho mundo, onde muitas relíquias foram preservadas, o “bota-abaixo” arrasou muitas Igrejas e moradias antigas, o que refletia uma verdadeira rejeição ao passado colonial.

Reconstruir a cidade, da maneira como Pereira Passos fez, não se concentrava apenas em construir novas edificações no lugar daquelas que já existiam, mas sim trabalhar com uma renovação urbana que transformasse o espaço físico da cidade, visando alçá-la ao patamar das modernas cidades européias.

Podemos imaginar que tal quantidade de eventos transformadores não poderia passar ao largo das intervenções do povo, que rapidamente exerceu sua resistência ao que estava sendo modificado. O povo possuía seus costumes do dia-a-dia, fazia suas festas e tinha uma cultura popular que traduzia um verdadeiro chamado ao espírito carioca, único no país, que vive junto a este clima tropical durante o ano inteiro.

Comparar os tempos antigos com os atuais leva-nos a uma verdadeira viagem na história, lembrando também a necessidade de pensar no futuro, que pode ser a nova capital, Brasília, ou qualquer outra cidade. A urbanização que é imposta a cidade, com um olhar que evoca uma proposta arquitetônica arrojada e sem precedentes nas terras brasileiras é o que surge como novidade, uma vez que nada disso existia no Rio de Janeiro em 1903.

Uma das maiores preocupações de Pereira Passos era sanear a cidade, que tinha graves problemas relacionados à higiene, ligadas a moradia e ao trabalho. Estes itens afastavam os estrangeiros, portanto nada mais natural do partir para a solução dos problemas, pois para a administração tudo estava ainda com a marca do atraso. As demolições davam espaço para o novo, que surgia organizado e moderno. A principal preocupação era com o centro da cidade, que deveria refletir este novo aspecto não só para os habitantes, mas também para os viajantes que por aqui aportassem. Quem sabe Pereira Passos não tenha buscado sua inspiração na capital parisiense visando dar ao Rio de Janeiro um ar dos famosos boulevards franceses, fazendo por aqui uma Champs Elysées que viria a tomar o nome de Avenida Central.

A modernização da cidade inovou no urbano. Seu movimento inicial até foi conservador, mantendo os estilos arquitetônico do século XIX, porém inovou ao implantar um ecletismo, ao associar o estilo do prédio à sua função.

A cidade moderna faz surgir a necessidade de se trabalhar o urbanismo. Entretanto a topografia do Rio, as limitações do sistema de transportes e as características da demanda de serviços pessoais produziram o que poderíamos de um processo de favelização crescente.

A primeira reação para a modernização da cidade é a desordem capitalista coube aos higienistas e sanitarista; houve intensas migrações e a multiplicação de aglomerações residenciais. Os sanitaristas atribuíram aos miasmas a origem de epidemias variadas, o que aliás não era novidade na cidade, isto desde os tempos coloniais. Ao mesmo tempo em que se descobria a importância da água, do sistema de coleta de lixo e de padrões higiênicos de construção, dando importância às praias e ao mesmo tempo ao verde.

A República, que se encarregou de dar uma remodelada total na capital do país, transformou suas casas e ruas, mudou o comportamento da população, para o bem ou para o mal. Causou até uma revolta, a da vacina, que obrigava apenas os pobres moradores dos cortiços e favelas a serem inoculados. A classe rica não precisava de vacinação, sempre houve quem dissesse que uns poucos são melhores que a maioria.

A cidade antiga forneceu os alicerces para a construção da cidade moderna. Os mais pobres pegavam os entulhos para construírem casas nos morros, enquanto a nova cidade com suas largas avenidas, seus novos prédios e jardins, crescia, ainda que de forma contraditória, rumo ao futuro. No seu modernismo, a cidade inovou na parte urbanística, ainda que de forma conservadora no seu movimento inicial, de arquitetura renascentista.

A topografia deixa o Rio de Janeiro diferente das outras cidades em muitos aspectos, já que existe uma proximidade quase que natural entre o morro e o asfalto, facilitando de certa forma uma mistura que não se encontra em nenhum lugar. A favela próxima produz a mão-de-obra barata que serve de apoio as residências de renda mais elevada.

A figura do malandro, do mulato, do capoeira e dos habitantes dos cortiços, todas elas com uma carga negativa muito grande, ainda rende poesia, música e até filmes. O carioca já abrigou a corte portuguesa, já foi vizinho dos imperadores e de presidentes, distinção maior ainda não se conhece. Sua identificação e elegância, seu poder político, econômico e social já o diferenciou de todos os outros brasileiros, mais nem por isso tornou-o um “metido”. Os outros sempre vêem o carioca com maus olhos, porém, mesmo com tantos defeitos, o carioca é amável e acolhedor, sempre querendo conversar e mostrar como é bom viver perto do mar, do céu azul e da natureza, tendo o Cristo Redentor para abençoar todas as maravilhas que só o Rio de Janeiro tem para mostrar.

domingo, 11 de abril de 2010

A Construção do novo Mundo e o Imaginário Europeu



Se o outro nos parece estranho nos dias de hoje, que nos há de pensar em 1500?

Conceitos como o bem e o mal, o céu e a terra, Deus e o Diabo, paraíso e inferno, estavam bastante presentes na vida dos homens europeus do século XVI. A igreja e seus dogmas representavam um papel de extrema importância na cultura dessa sociedade, na qual, “pesavam sobre seus fardos” uma relação estreita para com Deus, intermediada pela “casta política da Igreja católica” cujo poder, enquanto instituição, transcendia a esfera do religioso. A tutela da igreja criava mecanismos de controle para esta sociedade fundamentada na recriação do imaginário europeu, instalando-se nas terras recém descobertas nas Américas.

O tempo cronológico desconhece as transformações culturais. O homem do século XVI estava mergulhado no que a Idade Média tinha de mais poderoso: “a cultura”. Homens detentores de conhecimento científico se rendiam às quimeras mitológicas que assombravam os imaginários. A Idade Média e a Idade Moderna não se rompiam nas grandes navegações, mas se confundiam nas práticas cotidianas, estranhando o que era diferente.

Se por um lado havia todo o aparato para promover a empresa comercial das grandes navegações, por outro havia um território novo, cheio de “mistérios”. A base para a construção da identidade de uma terra chamada Brasil começava a se fundamentar desta forma.

Portugal e Espanha, em particular, serão os alvos deste trabalho que buscará um entendimento mais abrangente sobre a “construção do novo mundo no imaginário europeu”. Partindo da tese de Laura de Mello e Souza, que ao abordar o tema, analisará relatos feitos por um cronista, que nem sempre esteve na colônia portuguesa das Américas, mas que só por ouvir certas histórias, criava uma pseudo – realidade a partir de estórias ratificadas pela Igreja. A reboque será feito um paralelo com alguns autores que em outras épocas discutiram sobre o assunto, onde se dialogará com algumas fontes.

Não se rompe com o passado da noite para o dia, nem tão pouco com antigos valores e práticas, parafraseando um ditado popular que diz : “o homem só encontra o que procura”. Os europeus em um primeiro momento, não encontraram nada que já não tivesse trazido da Europa. Em outras palavras, este pensamento vem confirmar a análise feita por Souza ao debruçar olhares sobre os trabalhos de Leopardi, quando ao falar do imaginário europeu, refere-se à incapacidade destes em reconhecer o outro.

A visão de céu e inferno criada por Frei Vicente ao explicar o processo de assimilação do nome Brasil, ao invés de terra de santa Cruz, pode explicar de forma sucinta como o europeu lidava com o que não lhe era conhecido. O mundo limitado passara a ganhar um novo formato. Caio Prado, em seus estudos, acreditava ser o Brasil uma cópia mal feita de Portugal, ao analisar questões como burocracia e colonização. É inegável parte de sua afirmação, pois aqueles homens não só eram produtos do seu tempo, como também de seu meio. Traziam toda uma bagagem, misturando-se a valores autóctones, criando assim uma organização diferente de todas as outras nas colônias.

O que se pode perceber a partir das leituras feitas no trabalho de Mello são dois pontos importantes, que servirão para explicar a colonização das terras recém descobertas nas Américas. O primeiro seria a possibilidade de extrair toda riqueza que estas terras pudessem prover. O segundo diz respeito a necessidade de civilizar esses nativos, ditos bárbaros, de costumes estranhos e que nunca tivera conhecimento da palavra de Deus. Havia aí a necessidade de levar a esses nativos o conhecimento da “verdade cristã”. Numa sociedade onde tudo se explicava pela relação com Deus, como era no século XVI, o que fugia a essa perspectiva só poderia ser explicado como sendo do Diabo.

A Terra de Santa Cruz, como fora batizada pelos portugueses quando aqui chegaram, era segundo Gandavo e Bradônio, de fauna abundante e de flora exuberante. Segundo a autora Brandônio, ao referir-se a Colônia portuguesa, esta era como sendo ao contrário dos “Campos Elíseos”, a verdadeira terra que corria leite.

Pelo menos durante todo século XVI e XVII, a visão “edênica” a respeito das terras descobertas foi predominante nas crônicas de viajantes, de escritores e também dos que, através destes trabalhos, procuravam divulgar as novas terras, a fim de criar um imaginário “especulativo e imobiliário”. Deus era o criador destas terras, então este seria o paraíso. Entretanto as crônicas de Jaboatão, no século XVIII, marcaram uma segunda fase a respeito desta visão de paraíso. Segundo a autora, o que se passou a ocorrer a partir do século XVIII foi uma negativa na forma de observar a Colônia de Portugal na América. A visão detratora passou a ser a outra fase do paraíso. Tudo que fugia a métrica européia de paraíso era então o inferno. Ao que parece os europeus trouxeram consigo este paradoxo. Mas a questão que se deve formular é quem começou a propagar tal fato? E sob quais questões a historiografia do século XVIII analisava tal efeito?

Apesar de acreditar que tal visão, (negação ao paraíso), teria sido influenciada pelo movimento Iluminista ocorrido na Europa, em particular, na França, este trabalho não se propõe discutir esta especificidade da história, ficando então para uma nova ordem, uma discussão poderá ir além das “espumas criadas pelas ondas ao bater nos rochedos”.

As práticas de antropofagismo indígena representavam uma enorme negativa, o que para alguns cronistas rompia com a visão edênica das terras recém-descobertas. Souza faz referencias a Navarro, Nóbrega, Jaboatão e Jerônimo Rodrigues , entre outros, que descrevem de forma bastante detalhada a “sede” dos índios por carne humana. Tais práticas também foram observadas pelo padre Azpicueta Navarro ao dizer, segundo as palavras de Laura de Mello, que os Jesuítas escreviam muito sobre a prática do canibalismo.

O discurso de “degração”, feito ao homem da terra, não ficava limitado aos rituais de sacrifício. Outros elementos associavam-se, gerando uma numerosa lista de pecados além do antropofagismo – o incesto, poligamia, nudez, preguiça, cobiça, paganismo. Utilizando os relatos de padre Jerônimo Rodrigues Souza, este nos explicita que havia muitos homens para várias mulheres, assim como muitas mulheres para vários homens. No caso dos homens, estes se apropriavam inclusive das suas filhas e netas como mulheres. Outra análise feita seria, a cerca da preguiça que, debruçando olhares sobre os trabalhos de Prado, remete a uma sombria análise a respeito dos gentios. Em relação a cobiça, esta não caberia ao “negro” da terra, mas sim ao próprio europeu que, ao adentrar estas terras, seria corrompido por ela e sofreria pelo seu pecado.

As análises feitas por vários cronistas da época, e até mesmo pensadores mais contemporâneos como Kant, por exemplo, trazem a lume uma discussão referente à “bestialidade” dos gentios. Tratados como feras, serviram de alimento para o imaginário europeu. Se em 1555 o padre José de Anchieta se comparava a um veterinário, então para ele os índios americanos não passavam de animais. A autora continua avançando, dizendo que todos estes fatores somados sobre o homem da terra deram uma terceira concepção européia a respeito das terras americanas. A permissividade destes homens, devido as suas práticas, levaria o demônio a atuar livremente por estas terras. Uma vez expulso da Europa, devido à ação inquietante da Igreja católica que, segundo a autora, eficazmente cristianizou o continente e se fez vitoriosa durante a alta Idade media. Ao citar D. Rodrigo, Souza procurou embasamento para marcar a terceira fase a respeito do imaginário europeu.
(...) por todo o trajeto, procurou o demônio atrapalhar a viajem; não tendo sucesso, ‘se meteu em uma baleia e tão bravamente nos seguiu pela estreita canoa (...) lancei-lhe um Agnus Dei. Só assim a baleia (demônio) se afastou.
De acordo com estes relatos o demônio poderia estar presente não somente nas práticas indígenas, mas também no comportamento dos animais e nos fenômenos da natureza. Pragas de formigas, pulgas e outros insetos poderiam representar uma reação opressora sobre aqueles homens de Deus que, investidos do poder divino, estariam ali para combater o mal e evangelizar os “bárbaros”. Na passagem de Frei Vicente, ao celebrar uma missa, “o Satanás se fez presente transformando um belo dia claro em uma tempestade de raios e relâmpagos, que não só molhou os clérigos como também derrubou a imagem de Nossa Senhora ao chão”. No dia seguinte a este fato, segue o relato, Satanás fez acumular uma praga de moscas que assolou completamente o local.

Podemos então perceber que a visão edênica se dá pela natureza exótica que, em um primeiro momento, teria sido as Índias. Já a visão de inferno ocorre através dos fenômenos da natureza. É nessa dicotomia Céu e Inferno que se criou a necessidade de um Purgatório nas colônias européias das Américas. No século XVI, segundo Souza, o juiz demonólogo De Lancre via a incerteza, o afastamento e a confiança no abstrato entre outros como elementos capazes de provocar um efeito de afastamento do homem com Deus. De certa maneira o mar foi o objeto transformador nesse processo imaginário. Não que a idéia de Purgatório fosse algo de novo no consciente do europeu, mas segundo a autora, houve uma reformulação da “idéia de Purgatório” que de uma forma ou de outra, se adaptou muito bem a realidade das “terras de aça”. Como já observamos, tal visão se deu sob vários aspectos e em vários períodos. O “mar demoníaco” de De lancre no século XVI, sob condições bem semelhantes, será o “mar demoníaco de Camões do século XVIII, que fará do marinheiro o “prisioneiro da passagem”. A visão de mundo assombrado das colônias americanas lidavam com o mar como uma travessia para o além. Conscientemente ou não, esta era uma visão dos povos de origem africana, com quais, os europeus já tinha tido contato. As dificuldades passadas nas colônias pela vida rude não só reproduzia o imaginário europeu, como servia de castigo para os pecadores.

A visão de purgatório vai servir como uma solução para dois principais aspectos. O primeiro teria sido o social, como por exemplo, para onde iriam os condenados ao degredo Português. Para os espanhóis a colônia foi o paraíso local capaz de purificar as almas. As colônias européias nas Américas passaram a ser o lugar dos renegados. O segundo fora o econômico, já que a colônia precisava, acima de tudo, produzir para a metrópole. Então coube a esse degredado ser a mão-de-obra necessária para que homens na forma de trabalhadores, em sua maioria compulsórios, pudessem se purificar dos seus pecados. O discurso utilizado foi de grande eficiência, capaz de criar um equilíbrio entre metrópole e colônia.

As três visões sobre o imaginário europeu a respeito das terras portuguesas e espanholas nas Américas foram produtos de um imaginário que estava intrinsecamente influenciado por um aculturamento do imaginário acidental. Tendo sido bastante eficaz na construção do “Novo Mundo”.